II
Da sua posição sabia dos seus homens. Conhecia de cada um seu respirar, cada pelo seu nome: N’Toni, Djamil, Idrissa… e o benjamim, o divertido Gabirú! Nome tuga, dado por tuga [1] amigo de Bissau, que viu na sua pele mais branco que negro. E o nome, saboroso como papaia madura, ficara tão colado na sua pele, que os anos já não lembravam nem seu nome mandinga!A moral do grupo era Gabirú. No aperto, quando inimigo quase pisoteava o pano di dita [2] , ou a floresta se desamigava e se tornava escura - escura e esconsa – Gabi tinha a passada [3] pronta e rápida como flecha. E as gargalhadas dos colegas quase viraram tchur [4] , quando os tiros silvavam nos ares e todos se entrecosiam com as folhas do chão. Chi, Gabi! Tu és mofinado propri! Garasa na matanu [5]! Mas Gabi arreaganhava o sorriso branco e desdentado e aprontava mais piada.
- Caluda, sentenciava Kononton.
E recordava ternamente a carontonha fingida de zanga e birra pueril … Gabi é melhor que pastilha de tropa especial lá em Portugal e melhor que noz de cola muçulmana, aqui na terra.
E a mente lhe serpenteou de novo até casa. Fazia tempo que mandara dinheiro para zincar a casa. Sentir o chão novo de cimento e orgulhar-se do zinco novo na casa insistia-lhe junto, no coração.
Djabi! Fidju fêmia [6], olhos meigos e corpo de gazela! A festa da majuandadi [7] já teria começado? A cassette teria chegado a tempo, para contar-lhe dentro no coração as saudade sofridas, contidas todos os dias no silêncio frondoso da floresta. A cassete desbobinava: Djabi, minha filha, estar longe de ti cassabi [8] …
Os amigos e amigas da filha, irmanavam-se para a vida numa festa diante de todos, velhos e crianças. E o compromisso é solene. Entre muitas danças, muito vinho de palma e de caju, firmam o pacto de entreajuda nas coisas boas e nas más, até que a morte os separe. Quase parece casamento… e é mesmo casamento de partilhar trabalhos agrícolas, coisas comuns em favor de todos, festas…
Nã! Ela precisava mesmo era que lhe encontrasse um rapaz para marido. Descuidara-se e nunca a dera em casamento aos velhos da aldeia. Descuido caro que custara vaca, duas cabras, três porquinhos e nem sei quantos litros de cana, de caju e de palma! E os finórios ainda queriam whisky. Bebida branco, diziam eles. Aquele costume antigo tinha que acabar, mas os velhos entranharam-no tanto nas entranhas da terra, que acabar com ele era como tirar canhaco [9] na barriga de caçador.
- Konton! Ali, inimigo na bim [10]!
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[1] português; [2] pano de dormir; [3] anedota, brincadeira, alegria; [4] funeral; [5]Tú és azarado; a piada vai matar-nos; [6] filha; [7] grupo da mesma idade; [8] não é bom; [9] faca utilizada na ponta das lanças . [10] Olha, o inimigo está a chegar.
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