SABURA

Espero que todos os viajantes da blogosfera, que pausem aqui se sintam satisfeitos e possam relembrar-se de África, em especial da Guiné-Bissau.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Kononton ( II )

II

Da sua posição sabia dos seus homens. Conhecia de cada um seu respirar, cada pelo seu nome: N’Toni, Djamil, Idrissa… e o benjamim, o divertido Gabirú! Nome tuga, dado por tuga [1] amigo de Bissau, que viu na sua pele mais branco que negro. E o nome, saboroso como papaia madura, ficara tão colado na sua pele, que os anos já não lembravam nem seu nome mandinga!

A moral do grupo era Gabirú. No aperto, quando inimigo quase pisoteava o pano di dita [2] , ou a floresta se desamigava e se tornava escura - escura e esconsa – Gabi tinha a passada [3]  pronta e rápida como flecha. E as gargalhadas dos colegas quase viraram tchur [4] , quando os tiros silvavam nos ares e todos se entrecosiam com as folhas do chão. Chi, Gabi! Tu és mofinado propri! Garasa na matanu [5]! Mas Gabi arreaganhava o sorriso branco e desdentado e aprontava mais piada.

- Caluda, sentenciava Kononton.

E recordava ternamente a carontonha fingida de zanga e birra pueril … Gabi é melhor que pastilha de tropa especial lá em Portugal e melhor que noz de cola muçulmana, aqui na terra.

E a mente lhe serpenteou de novo até casa. Fazia tempo que mandara dinheiro para zincar a casa. Sentir o chão novo de cimento e orgulhar-se do zinco novo na casa insistia-lhe junto, no coração.

Djabi! Fidju fêmia [6], olhos meigos e corpo de gazela! A festa da majuandadi [7]  já teria começado? A cassette teria chegado a tempo, para contar-lhe dentro no coração as saudade sofridas, contidas todos os dias no silêncio frondoso da floresta. A cassete desbobinava: Djabi, minha filha, estar longe de ti cassabi [8] …

Os amigos e amigas da filha, irmanavam-se para a vida numa festa diante de todos, velhos e crianças. E o compromisso é solene. Entre muitas danças, muito vinho de palma e de caju, firmam o pacto de entreajuda nas coisas boas e nas más, até que a morte os separe. Quase parece casamento… e é mesmo casamento de partilhar trabalhos agrícolas, coisas comuns em favor de todos, festas…

Nã! Ela precisava mesmo era que lhe encontrasse um rapaz para marido. Descuidara-se e nunca a dera em casamento aos velhos da aldeia. Descuido caro que custara vaca, duas cabras, três porquinhos e nem sei quantos litros de cana, de caju e de palma! E os finórios ainda queriam whisky. Bebida branco, diziam eles. Aquele costume antigo tinha que acabar, mas os velhos entranharam-no tanto nas entranhas da terra, que acabar com ele era como tirar canhaco [9] na barriga de caçador.

- Konton! Ali, inimigo na bim [10]!

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[1] português; [2] pano de dormir; [3] anedota, brincadeira, alegria; [4] funeral; [5]Tú és azarado; a piada vai matar-nos; [6] filha; [7] grupo da mesma idade; [8] não é bom; [9] faca utilizada na ponta das lanças . [10] Olha, o inimigo está a chegar.

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