E a floresta
entranhava-se mais e mais em Kononton. Até ao desvanecimento pela fome e pela
sede. O seu corpo desmembrou-se e o espírito vagueou pelo infinito das
memórias.
Aquele 9, aquele 9 insistente, o 9
do seu absoluto, apareceu-lhe outra vez: os 9 dias do “choro” dos velhos mortos; os 9 grãos mágicos da “mesinha” confecionada pelo feiticeiro
para as suas amarrações; os 999 degraus da escada para o reino dos mortos…
No momento em que kononton estendia
a mão para retocar o seu velho pai defunto, o corpo estremeceu-lhe e o espírito
vagou. Kononton quis reencontrar o “papesinho”,
mas não conseguiu vergar a vontade do espírito, vagabundo de si.
E cruzamentou-se com aqueles da
aldeia que deixaram o corpo inerte de lado e ombreavam com os vivos, invisivelmente.
Tio Mekongo! Esquecera-se de
honrá-lo, deixando arroz cozido e vinho de palmeira junto ao seu túmulo.
Esquecera-se de fazer chegar à família a maleta, rota da idade, com os seus
velhos pertences.
Desgraçado! Por sua causa o tio não
descia ao reino dos mortos e nenhum recém-nascido macho podia ser renomeado
Mekongo. E a linhagem extinguir-se-ia. Ao longe ouvia-o implorar:
“Vai-te, Morte!
Guarda-me um lugar bem lá no fundo.
Que faço eu sozinho neste mundo, cá
em cima?
Ò irmão defunto, meu irmão, porque
me abandonaste?
Os meus amigos passeiam-se,
Dois a dois ou três a três.
Mas eu deambulo sozinho!
Por acaso nasci sozinho?
Onde me sentarei com a minha mágoa?
Meu pai morto! Minha mãe morta!
Todos os meus irmãos morreram.
Só resto eu! Que espero?
Que esperais?
Irmão, guarda-me um lugar bem lá no
fundo!
Meu pai, espera por mim!
Espera, que já vou a caminho!”
Kononton embalado pela imprecação,
aterrou-se com os olhos do tio, que corriam para ele, faiscantes, carregados de
ira mortal.
E acordou. Quis fugir, mas o corpo
não se moveu. Tateou com medo de abrir os olhos à claridade e sentiu anéis
fortes à sua volta. E fez-se-lhe luz: eram os anéis do seu pitão protetor.
Aliviado, Kononton anelou-se com ele e assim ficou minutos… horas. Dias?
Lembra-lhe, apenas, que o
ressuscitou um vago cheiro… de comida! Olhou e viu: o pitão regurgitara a
última gazela que apertara num abraço mortal e partilhava com o pobre soldado o
seu alimento.