SABURA

Espero que todos os viajantes da blogosfera, que pausem aqui se sintam satisfeitos e possam relembrar-se de África, em especial da Guiné-Bissau.

sábado, 12 de junho de 2010

11 de Março

O comboio se esfumava nas linhas dentre a estação do Aquém para a estação do Além. Na carruagem 13 Fatwa olhava pelo rabinho do olho para o banco vizinho, onde se ensonava um rapazinho: Jesus Maria.
Fatwa sentia o olhar reprovador dos pais: dos seus e dos dele. Ela bem queria dedilhar umas conversas com aquele menino, mas papá e mamã sempre lhe disseram:
-Com branco d’Europa não pode a gente intimizar! ‘Viu?
Agora se entristonhava com a lembrança fumada dos amigos de Gã Mamadu, nas lalas do rio Mansoa. “Não! – lhe avisava na cabeça a voz de mamã – Caso senão nos encativamos”!
Jesus Maria era a companhia! Rabejou mais seu olhinho e viu-lhe piscando. O coraçãozinho inchou-se com a distinção daquele olhar.
E no mesmo tempo a carruagem se inflamejou no Além, fogueando o crepúsculo. E quando os ferros e o fogo e as cinzas se pousaram, o chão se fecundara: o sangue da menina e o sangue do menino se convergiram no mesmo e nessa quentura se envolutearam na terra do Tempo Sem Fim.
-Tens nome?
-Não! Agora sou inominado. E tu?
-Também sou inominado. Que aconteceu?
-Maldade. Muita e má maldição! Querem que aceitemos a mandança dos mortos. Nã! Nem que cobra seja canhota.
-Não sentes uma sozinhidão?
-Isso era lá nas nossas terras lamacentas do Mansoa. Agora somos inorganismos. Estamos mais pertos do Deus único. Será que Ele também está abastecido de solidões?
-Nã! Nós lhe dedilharemos conversinhas de embalar. Olha! E a esperança? Terá sido desmorada?
-Nunca! A sua moradia somos nós. Mastigámo-la. Foi da fome na nossa terra. Agora faz parte do nosso sangue. Sabes? Os homens vão-se tornando bichos, espalhando suas humanas selvajarias e fazendo companhia às toupeiras em suas subterraneidades. Mas um dia verão a Luz.
E os dois continuaram se entreconversando, felizes do seu estado, tão felizes como “sapato que trabalha deitado na terra, tão rasteiro que nem dá conta quando morre”.

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